POR ARNALDO RODRIGUES
O que iremos relatar pode até ser para alguns um tema sem muita relevância, pois diante de tantos problemas existentes em Caxias, mas, que de fato devemos prestar bastante atenção. Nossa cidade é uma das mais importantes do estado do Maranhão, de um passado glorioso, um presente atual estático e um futuro nada promissor.
Como filho dessa terra, tenho acompanhado as mudanças e transformações em solo caxiense e irei relatar aqui algumas nuances e performances do nosso atual ambiente e da realidade daqueles que de fato são os verdadeiros zeladores da Princesinha do Sertão, os nossos heróis sem fardamento, sem reconhecimento, sem salário digno e muitas vezes desrespeitados e ignorados por todos aqueles que infelizmente, ajudam a poluir ainda mais a nossa cidade. Os heróis da limpeza de que trata esse texto são os garis.
Minhas andanças pelo Maranhão, Brasil e até mesmo por outros países, fizeram-me refletir muito; porque, ainda, em pleno século XXI, Caxias, utiliza um tipo de vassoura na limpeza pública de ruas e avenidas, feita de forma artesanal, onde no princípio, eram produzidas de arbustos e de ervas daninhas. Percebe-se que de alguns anos para cá elas passaram a ser confeccionadas do olho da palmeira do buritizeiro, pois são os próprios servidores da limpeza pública que têm que produzir seu instrumento de trabalho o que é inadmissível.
Por trás da velha vassoura se esconde um mundo sombrio que vai da exploração e agressão ambiental da palmeira do buriti, passando pelo não cumprimento de de direitos trabalhistas, como: férias dos garis, falta de EPI´s, entre outros, comprometendo dessa forma a existência da palmeira do buriti na região, além de colocar em risco a vida dos trabalhadores, que muitas vezes vão até a mata extrair o olho da palmeira, sendo expostos a picadas de cobras e de outras adversidades.
A velha vassoura de Caxias já está há bastante tempo sendo usada por essa classe tão desrespeitada e sofrida que são os garis, portanto, estima-se em torno de 80 anos, segundo informações dos heróis da limpeza e dos moradores de caxienses. A vassoura que já foi utilizada como o símbolo de campanha presidencial pelo então candidato Jânio Quadro, nos anos 60, para varrer a corrupção, também é utilizada como transporte da velha Bruxa Malvada. Em Caxias do Maranhão, significa que paramos no tempo ou avançamos muito pouco diante de tantas atrocidades que os trabalhadores da limpeza vêm enfrentando. A velha vassoura testemunha de perto os profissionais da limpeza pública serem humilhados e intimidados pelo responsável do Setor de Limpeza Pública, onde este obriga os servidores a votarem num determinado candidato a vereador ligado ao mandatário da limpeza pública, caso não votem, estarão sujeitos a perderem seus empregos.
Diferente de Caxias, não precisamos ir tão longe, basta darmos uma volta nos municípios vizinhos de nossa Princesa do Sertão, como: Aldeias Altas, Timon, São João do Sóter, e a capital do Piauí; Teresina, que notoriamente, a vassoura é feita de piaçaba, espécie de vassourão que torna a limpeza mais eficaz e eficiente. É óbvio e produtivo que esse material de limpeza poderia ser substituído por vassouras recicláveis feitas de garrafa PET, dando assim oportunidade de trabalho a vários caxienses. Uma outra coisa que nos chama a atenção, é que a varrição é feita exclusivamente pelas mulheres durante todo esse tempo, podendo lhes causar uma hérnia de disco e outras doenças por movimentos repetitivos. O que é observado constantemente é que aos homens cabem apenas recolher os lixos com suas latas e galões reutilizados.
Ao longo do tempo poucas coisas aconteceram na limpeza pública de Caxias. Lembro-me, que na primeira gestão do prefeito Hélio Queiroz, ainda na década de 80, os garis passaram a usar um fardamento na cor verde, enquanto que na administração dos Marinhos, foi criado uma autarquia: O Serviço Autônomo do Meio Ambiente e Limpeza Urbana de Caxias – SAMAL. No curto mandato do então prefeito Fause Simão, aproveitando a lei do salário mínimo, Fause Simão autopromove-se até hoje por ter implantado o pagamento de um salário mínimo aos garis e com isso querendo apenas fazer média com essa classe, já no governo dos Coutinhos, foi institucionalizada a política partidária no Setor de Limpeza Pública. Infelizmente com todos esses acontecimentos durante esses anos não foram possíveis trocar a velha vassoura que faz a limpeza das vias públicas de Caxias.
A dinastia Gentil, que no momento administra a cidade de Caxias pode passar para história se conseguir substituir esse antiquado uso da velha vassoura que há anos perdura na cidade, e que porventura, se essa atual administração desse melhores condições de trabalho para esses imprescindíveis trabalhadores, reconhecendo-os e valorizando-os com um salário digno, com certeza essa gestão teria um marco na história política diferente de outras gestões anteriores. Diga-se de passagem, mudaria completamente a forma de limpeza, onde garis passariam por novos treinamentos para que limpeza pública se tornasse mais salutar. Sairia de cena as velhas vassouras do tempo do prefeito Alcindo Cruz Guimarães, nos idos de 1937 a 1941 e que ainda fazem parte da paisagem caxiense até o momento e entraria as novas vassouras citadas nesse texto. Assim, Caxias passaria ter uma limpeza pública com mais qualidade, pois sabemos que a nossa realidade de limpeza anda bem imunda e crítica. Se diante dessa informação educacional, através deste singelo apelo textual surtir efeito, o meio ambiente agradeceria toda essa atenção e grito de socorro. Desse modo sairia ganhando o povo, o trabalhador e consequentemente a atual administração.
*Geógrafo e professor
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Comentários
eduardo de almeida cunha
09/12/2021 17:28
BELO TEXTO REFLEXIVO PROFESSOR ARNALDO. ACRESCENTARIA A ESSA SUBSTITUIÇÃO DA VASSOURA, OUTRAS ATITUDES PRÁTICAS DAS COMUNIDADES, NO INTUITO DE COLABORAREM COM A LIMPEZA DE NOSSA CIDADE. ALÉM, É CLARO DE OUTROS PROJETOS QUE DEVERIAM SEREM IMPLANTADOS PELO ESTADO, DESDE: COLETA SELETIVA (A INICIAR PELO DESCARTE E APROVEITAMENTO SELETIVO DOS MORADORES, ESPAÇOS ORGÂNICOS (CANTEIRIÇAS, MEDICINAIS, ORNAMENTAIS E FRUTÍFERAS ETC.) E TANTOS OUTROS ...
Thayssa Cristina Pereira dos Santos
07/12/2021 08:58
Pertinente abordagem amigo Arnaldo! Eu ainda não tinha parado pra pensar na lógica ambiental essa problemática dos garis. Sua visão é de grande valia! Os profissionais de limpeza são invisíveis ao poder público.