Ricardo Marques

A foto acima é o único registro com Chocolate de quando estávamos vereadores; ao fundo, o segurança Zezão

Nós dois temos José nos nomes, razão pela qual eu o chamava “Zé de Alexandre” e ele me chamava “Zé de Ricardo”.

Chocolate fez história no rádio FM de Caxias (MA) – “Eu só quero chocolate...”, cantarolava o Tim Maia; era o “BG” dele entrar no ar. Sua voz era inconfundível, suave, bem colocada e uma dicção perfeita. Coordenados pelo Robert Soares na Veneza FM, integrávamos uma equipe de locutores fora de série, modéstia à parte. Davi Peres, Bino Bill, Lúcio Mauro, Carlito, Washington Gutemberg... que timaço!

Davi, Bino e eu morávamos numa república que ficava de frente às ruínas da Balaiada, no Morro do Alecrim. Chocolate era praticamente o quarto elemento da casa, pois não saía de lá, para alegria de todos nós que privávamos da sua amizade. E que amigo!

Se no ar Chocolate era um profissional de altíssimo nível, fora era um cara incrível;  amigo leal, correto e verdadeiro. Pegou uma pressão danada quando eu e Ireneide fugimos, mas não arregou. Limitou-se a dizer que “não sabia de nada”.

Muito tempo depois de deixar o rádio, Chocolate foi eleito vereador de Caxias – coincidentemente na mesma legislatura para a qual eu também fora eleito. Nós sentávamos lado a lado no plenário da Câmara Municipal (foto) e, após as sessões, íamos juntos deixar o Zezão (segurança da Câmara) em casa.

Chocolate era aquele ursão grandão – com direito a redundâncias e excessos – que quando abraçava a gente nos envolvia nos braços por completo. O sorriso fácil era outra marca da sua personalidade. Casou com Patrícia o grande amor de sua vida – quando aportei em Caxias, no começo da década de 90, os dois já namoravam – com quem teve duas filhas, Juliana e Isabela.

Somente ontem à noite soube que Chocolate estava internado em um hospital de Teresina (PI). Patrícia explicou que o meu amigo passara por uma cirurgia no intestino para tratar uma diverticulite e tivera complicações. Estava em coma havia duas semanas e eu nada sabia. Me dei conta do quão distantes estávamos um do outro. Na madrugada de hoje Patrícia deu a notícia de seu passamento. Estou arrasado!

Nunca aprendi digerir a perda de amigos importantes na minha história. Tenho muita dificuldade de virar a página e seguir em frente. Percebo que ultimamente o adeus a amigos que me são caros tem sido frequente. Talvez, porque eu também esteja próximo de partir.