Ricardo Marques

POR ABDELAZIZ SANTOS

Por falta de opção, votei em Lula no 2º turno. Do Bolsonaro repetidas vezes escrevi que a sua eleição seria a própria TRAGÉDIA para o Brasil. Não tem carisma para liderar, logo esse movimento ridículo e insurreto dos seus adeptos terá fim.

Lula eleito, temos o dever de lutar para que ele faça um bom governo para o País. Não por ele ou pelo seu partido, mas pela população mais carente que precisa do governo federal. Para isso, deveria tanto quanto possível afastar-se do PT, visto nacionalmente como uma organização criminosa.  É só lembrar o que disseram os principais jornais do mundo sobre o mensalão. Ocorre que, ao invés de montar um ministério plural como prometera na campanha, o núcleo principal do governo é formado de homens do PT. O aumento exagerado de ministérios, reinaugura o já conhecido toma lá dá cá, com as corretas exceções da pasta dos Povos Originários e a necessária volta do ministério da Cultura.  O governo já nasce envelhecido.

Em inúmeras postagens, tenho afirmado que o Lula de nada é isento e de nada foi inocentado, ele próprio um operário nascido de família pobre, mas que se deixou corromper pelo Poder, frustrando a Nação brasileira que nele via a esperança de transformar o Brasil num País sério. Ficou pior depois dele. Pior, muito pior, do que a cumplicidade com o desvio de bilhões de reais do petrolão que envergonhou o País mundo afora foi o mau exemplo que deixou para as gerações posteriores. Do prejuízo que sofreu a Petrobrás, como economista sei que o Brasil tem condições de superá-lo.

A generosidade dos brasileiros lhe deu mais uma oportunidade de presidir o País e deixar, desta vez, um legado de honestidade e honra para as futuras gerações. Oxalá!

Lula ganhou as eleições sem qualquer projeto de país. Não é de se estranhar, portanto, as declarações controversas de vários ministros empossados, pois ninguém sabe ao certo o rumo que tomará o País. O PT governará o Brasil com ideias envelhecidas, não renovadas, e com um time altamente suspeito ao redor (Renan Calheiros, Geddel Vieira, Jader Barbalho, Ciro Nogueira, Eunício Oliveira e outros).

Imaginar uma reforma política decente com esses aí e com o aceno que faz ao Centrão, aceno já atendido, é estar fora do bom senso (o modelo de governança que está sendo desenhado nos primeiros passos do novo governo é o mesmo de sempre: barganha de um lado e outro. A governabilidade, uma vez mais, não é com o povo que elegeu o Lula, mas com os mercenários de sempre); nos 14 anos em que governou o País, o PT não teve coragem de enfrentar uma reforma da previdência à altura das necessidades dos trabalhadores; reforma tributária que beneficie os de menor renda com a simbiose que tem com os grandes banqueiros donos da dívida pública interna, mera ilusão.

Se tivesse a coragem de auditar a dívida pública poderíamos ter avanços significativos nas políticas básicas reclamadas pela população de menor renda ou de renda nenhuma (educação, saúde e segurança) e essa imundície da PEC da Transição, que resultará em prejuízos inflacionários para a população de baixa renda, seria substituída pela redução dos juros da dívida nas mãos dos grandes bancos do País. A propósito, a equipe de transição exibiu dezenas de pessoas investigadas por corrupção. Que coisa!

Lula precisa ser monitorado diariamente pela imprensa livre, se é que isto existe, até para evitar-se um novo mensalão, já com desenho em nova versão. Em geral, a grande massa de simpatizantes do Lula o vê apenas pelos seus bons feitos que, na verdade, foram muitos; não lhe conhece o lado obscuro da personalidade. Fui testemunha de alguns dos seus graves desatinos quando esteve na Presidência da República (escrevi e publiquei vários artigos sobre isso).

Com a eleição do Lula, a corrupção literalmente relativizou-se no Brasil. Triste! Votamos em Lula menos pela esperança do que pelo medo do ABISMO.

É honesto dizer que, com a sua eleição, ficaremos livres dos preconceitos religiosos, misóginos, raciais e sexuais. De igual modo, é lícito apostar em melhorias nas áreas do meio ambiente, sociocultural e povos originários.

Penso que deverá nascer uma nova oposição no Brasil, torço e já trabalho para isso, longe do PT e de seus partidos siameses, algo diferente e sério, capaz de fazer-nos sonhar com o Brasil que todos desejamos. Oposições são imprescindíveis numa democracia. Ainda temos um largo percurso pela frente para que isto venha a acontecer. Lamento muito que o meu partido, o PDT, esteja à frente de um ministério. Com tudo que pregou no 1º turno da campanha deveria, isto sim, olhar criticamente os desdobramentos do governo Lula. O nome disso é coerência, que se perdeu com a morte do Brizola. 

Alguns amigos meus e até mesmo familiares lerão este artigo com reservas. É natural, estão eufóricos com a vitória do Lula e, em geral, pensam que o Brasil está a salvo de tudo. Já tenho alguma experiência para saber que não será assim. Apenas sairemos do pior para o mais ou menos. A eles, o meu respeito por suas ideias e opiniões. Mas, é como penso.

*Economista, ex-secretário de Planejamento do Maranhão