POR AZIZ JÚNIOR
Acho que já disse, em outra oportunidade, que minha vida de estudante do ensino fundamental não foi digna de nota. Na tentativa de me adequar peregrinei por vários estabelecimentos escolares.
Comecei a vida escolar no Antônio Lobo, de lá para o Marista, Batista, Santa Tereza, Ronald Carvalho. Era completamente inexpressivo, ensimesmado, até chegar à Escola Técnica Federal do Maranhão. Ali pude felizmente encontrar-me. A Escola era uma verdadeira Torre de Babel. Estudantes de toda matriz social, cor, religião, orientação sexual, conviviam e se misturavam em perfeita "desarmonia". Cursava Edificações, no turno matutino, mas, de tão envolvido nas funções extraclasse (reabrimos o GREMIO ESTUDANTIL, revitalizamos o Teatro, fazia esporte e já ensaiava os primeiros acordes no Bar da Zizi, onde tomávamos o que o bolso permitia, não raro uma 51 com Fanta (laranja), só me faziam retomar para casa à noite.
Dei-me à Escola e recebi em dobro. Amigos, lembranças, militância, paixões, tudo guardado com imenso carinho, no lado esquerdo do peito, como nos ensina Milton.
Mas, são do Marista as histórias mais trágicas. Ainda nas primeiras séries, toda vez que apanhava corria pra frente da sala de minha irmã, Samme, e ficava ali parado com cara de choro, até que ela vinha em meu socorro perguntando quem tinha me batido, pronta que estava para ir à forra com meu algoz. Era temida até pelos mais perdidos. Nos dias em que o espectro autista me acometia, ficava, na hora do recreio, dando voltas nos bancos de cimento da pracinha. Samme, zangada com minha atitude, chegava nos meus ouvidos e dizia: “não diz pra ninguém que tu é meu irmão”.
Quando cursava a 5° série, por volta do mês de setembro, disse ao meu pai que não ía mais estudar, queria aprender mecânica de automóvel. O pedido foi logo atendido, meu pai falou com um dono de uma oficina que me aceitou. O aprendizado só demorou três meses. No ano seguinte retornei aos bancos escolares.
Certa vez, numa aula de português, a professora realizando uma tarefa, pediu-me: “Abdelaziz, conjugue um verbo no presente do indicativo da primeira conjugação”. Levantei e de pronto comecei: EU PEIDO, TU PEIDAS, ELE PEIDA... e antes mesmo de terminar o exercício proposto pela docente, fui convidado a me retirar e ir direto à diretoria do colégio. Meu pai, executivo de alta função, presidia à época o maior banco de fomento do Estado, o já extinto BDM (Banco de Desenvolvimento do Maranhão), foi chamado às pressas, pois seu filho havia cometido um delito sério na escola. Ao chegar, depois de saber da infração que seu rebento cometera, indagou a professora:
- Mas, o Junior conjugou o verbo direitinho?
Não lembro da resposta da professora, mas da sensação de vingança que meu pai patrocinou, não esqueci.
*Cantor e compositor
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Comentários
Djalma Chaves
10/04/2023 21:51
Excelente!! Rsrsrs