POR RUY PALHANO
A “resignação" é um sentimento nobre, elevado, especial e de um significado importante no rol dos sentimentos humanos. Serve para nós nos adaptamos às situações as quais não podemos mudar. Em um contexto emocional ou filosófico, refere-se à atitude de aceitar algo sem tentar mudá-lo, geralmente algo considerado inevitável ou fora do controle de alguém. Além do mais a resignação pode ser vista de maneira positiva, como uma forma de sabedoria e aceitação da realidade, ou negativamente, como um sinal de desistência ou derrotismo.
A palavra "resignação" em português vem do latim "resignatio". Esta palavra é composta por "re-", um prefixo latino que significa "de volta" ou "novamente", e "signare", que significa "marcar", “selar” ou “assinar”. A ideia original é de "voltar a marcar" ou "refazer um sinal". Com o tempo, o significado evoluiu para representar a ideia de desistir, abandonar ou ceder algo e passou a ser usada no sentido de "renúncia" ou "abandono voluntário", especialmente em contextos religiosos ou filosóficos. A palavra foi adotada no vocabulário português, mantendo a raiz latina e o significado relacionado à renúncia, entrega ou aceitação de uma situação.
A relação entre resignação e a morte é um tema profundamente explorado em filosofia, religião, psicologia e literatura. A resignação, nestes contextos, refere-se à aceitação da morte como uma parte inevitável da existência humana. Do ponto de vista filosófico, muitos filósofos discutem sobre este tema, há muitos anos. Por exemplo, os estoicos da Grécia Antiga pregavam a aceitação serena das coisas que não podem ser controladas, incluindo a morte. Eles viam a resignação não como derrota, mas como um reconhecimento da ordem natural das coisas.
Diferentes tradições religiosas abordam o tema da resignação relacionado à morte de maneiras diversas. Em algumas crenças, como o cristianismo, a resignação à morte é frequentemente acompanhada pela fé na vida após a morte ou na ressurreição. Em outras tradições, como o budismo, a resignação pode estar ligada à ideia de aceitação do ciclo de nascimento, morte e renascimento.
Sob a ótica psicológica, a ideia de resignação à morte está intimamente ligada ao processo de luto e à aceitação da mortalidade. Elisabeth Kübler-Ross, em seu famoso modelo dos cinco estágios do luto, identifica a aceitação como a fase final no processo de lidar com a morte ou com uma perda grave.
A resignação em face da morte é um tema recorrente em muitas obras literárias e artísticas. Autores e artistas frequentemente exploram a natureza efêmera da vida e a inevitabilidade da morte, usando a resignação como um tema para refletir sobre o significado e o valor da vida.
Em todas estas perspectivas, a resignação à morte é geralmente vista não como uma forma de desistência, mas como uma aceitação madura da realidade, que pode levar a uma maior apreciação da vida e a um foco no que é verdadeiramente importante e nesta condição a religião parece referir-se à ideia de resignação ou aceitação no contexto das crenças religiosas. Na maioria das tradições religiosas, a resignação é frequentemente vista como uma virtude. Ela pode ser entendida de diferentes maneiras, dependendo da perspectiva religiosa.
No cristianismo, a resignação pode ser interpretada como a aceitação da vontade de Deus e a confiança em Seu plano, mesmo em face de dificuldades ou sofrimentos. Esta ideia é frequentemente baseada em ensinamentos bíblicos sobre a fé e a confiança em Deus.
No Islã, a resignação (Tawakkul) é a aceitação da vontade de Allah. É uma parte importante da fé, onde os muçulmanos são encorajados a confiar em Allah em todas as circunstâncias, enquanto se esforçam ativamente para melhorar suas vidas. Já no Budismo, a ideia de resignação está mais ligada à aceitação da impermanência da vida e ao desapego dos desejos mundanos. O Budismo ensina que a resignação aos aspectos incontroláveis da vida pode levar à paz interior e à iluminação.
No Hinduísmo, a resignação pode ser vista como a aceitação do dharma (dever, lei moral) e o reconhecimento da realidade do samsara (o ciclo de nascimento, vida, morte e renascimento). A entrega a Deus e a aceitação da Sua vontade também são aspectos importantes. Observa-se, que em todas estas tradições religiosas, a resignação não é uma passividade diante da adversidade, mas sim uma forma ativa de fé e confiança. Envolve a compreensão de que, embora não possamos controlar tudo na vida, podemos encontrar paz e propósito na maneira como respondemos às circunstâncias.
A resignação no contexto sociocultural pode ser entendida de várias maneiras, dependendo de diversos fatores como normas sociais, valores culturais, histórias e experiências coletivas de uma sociedade, pois em muitas culturas, a resignação pode estar associada à conformidade com normas e expectativas sociais. Isso pode significar aceitar papéis sociais, tradições ou sistemas de crenças estabelecidos sem questioná-los, muitas vezes em prol da harmonia social ou por respeito à autoridade e tradição.
Em outros contextos em que existem desigualdades sociais, econômicas ou políticas significativas, a resignação pode ser uma resposta à percepção de falta de poder ou à incapacidade de mudar o status quo. Em alguns casos, pode ser uma maneira de lidar com injustiças percebidas ou experiências de marginalização.
Certos valores culturais, como a ênfase na paciência, na tolerância ou no sacrifício pessoal, podem promover a resignação como uma virtude. Em tais culturas, a capacidade de suportar dificuldades sem reclamar pode ser altamente valorizada. Da mesma forma como se sabe que em tempos de mudança rápida ou incerteza (como durante crises econômicas, conflitos sociais ou desastres naturais), a resignação pode surgir como um mecanismo de enfrentamento. As pessoas podem se resignar às novas realidades como uma forma de manter a estabilidade psicológica ou para evitar o desespero.
Histórias de opressão, colonização, guerra ou desastres podem levar a uma sensação coletiva de resignação entre as gerações. Esta resignação pode ser parte de uma narrativa cultural mais ampla, influenciando a maneira como as pessoas veem seu lugar no mundo e suas perspectivas de mudança. Bem como diferentes gerações dentro de uma cultura podem ter atitudes distintas em relação à resignação. Enquanto gerações mais velhas podem ver a resignação como uma necessidade ou virtude, gerações mais jovens podem desafiá-la em busca de mudança social ou expressão individual.
*Psiquiatra e escritor, membro da Academia Caxiense de Letras (ACL)
Fonte: Opinião
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