Ricardo Marques

Eleições municipais de São Luís à vista

Por: Opinião | Publicado: 18/02/2024 09:12 - 0 comentário


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POR ABDELAZIZ SANTOS 

Aparentemente, tudo parece correr no rumo de uma polarização Braide versus Duarte Junior. O primeiro, voltado para dentro de si mesmo, parece não querer papo com lideranças políticas de outras correntes, confiando na estrutura da Prefeitura e no seu trabalho, mas tido no meio político como de difícil convivência e pouco zelo com compromissos assumidos (que o diga o PDT, grandemente responsável pela sua vitória no segundo turno); Duarte Junior ganhou recentemente o apoio do Governador Brandão, o que não é pouca coisa em termos de máquina eleitoral, mas precisa conquistar a simpatia de possíveis aliados políticos que o veem com olhares desconfiados e, por isso, correram na direção do Braide na eleição anterior, mesmo contrariando os apelos do ex-governador Flávio Dino.

Ambos, governador e prefeito, fizeram agora pelo carnaval o maior estupro de que já se teve notícias contra as tradições culturais do nosso lindo carnaval. Duelo de gigantes, que o tornaram anões perante a população que pensa. A História costuma cobrar caro esse tipo de crime. “Quem viver verá”!

Duas máquinas de peso para assombrar qualquer outro postulante ao cargo de prefeito do município. À regra, foge o PDT, cuja história foi a de sempre dar o bom combate nas eleições independentemente das perspectivas de vitória ou derrota. Historicamente sempre foi um partido proeminentemente político, para depois sê-lo eleitoral, o que o fez outrora diferenciado nos cenários nacional e estadual.

Isso fê-lo ganhar vida. No Brasil, com o Brizola, no Maranhão, com o Jackson Lago. Os dois tantas vezes perderam eleições e outras tantas saíram vitoriosos nas disputas. As máquinas eleitorais quase sempre utilizadas de forma não republicana não lhes metia medo. O confronto se dava pelas denúncias do seu uso ainda que a Justiça Eleitoral não lhes coibisse os crimes.

Pior do que isso eram os enfrentamentos com os institutos de pesquisa: o IBOPE, agora de nome novo – IPEC, sabidamente um perigo e um atentado aos bons costumes republicanos. Esse instituto se notabilizou por ser uma máquina de moer candidaturas sadias e sempre a serviço de práticas nada republicanas. Só publicava os resultados corretos na véspera das eleições ou no apanhado da boca-de-urna. Triste e desonroso passado.

Sobrevivemos, mesmo assim. Caíamos, nos levantávamos, e seguíamos o nosso caminho de lutas pelo direito de demarcar territórios e zelar pela ordem democrática.

Relembro tudo isto para afirmar que estamos de pé e vamos para a disputa da forma que aprendemos a fazer, ou seja, tecendo alianças com os setores populares e organizados da população e colocando a serviço da candidatura do Partido a experiência acumulada pela sua militância ao longo de décadas. Nesse caminho vamos colhendo frutos até a hora de buscarmos as alianças com os partidos vizinhos, mais próximos de nós, e lideranças daqui e acolá.

Olhando o panorama eleitoral que está por vir, fico refletindo sobre a necessidade de concebermos uma ideia grande, ideia-chave que nos mova a todos e, sobretudo, mova a população. Olhando a Retrospectiva da Globo de 2023, não pude deixar de me envolver na tristeza das catástrofes globais, terremotos, enchentes, e mais do que isso, guerras fraticidas, violência contra negros, mulheres, crianças, mortandade, fome, realidades passíveis de serem pacificadas, não fosse a questão central e precursora da maioria das guerras, sabidamente os interesses econômicos que vicejam por trás dos argumentos falaciosos das lideranças internacionais. Foi assim que me ocorreu a ideia de que a grande necessidade da população é a de AFETO, de CUIDADO.

Cuidar do ser humano deve ser a preocupação central; o modo de ser cuidado revela como ele é. Viver é relacionar-se, portanto, deslocar o nosso interesse para o outro deve ser a tônica de quem pretende cuidar da cidade. Cuidar do outro, desse ser único, singular e irrepetível.

Como falam Bernardo Toro e Leonardo Boff: o cuidado constitui a categoria central do novo paradigma de civilização que trata de emergir em todo o mundo. Saber cuidar, num modo de viver em que todos ganham, com acesso solidário ao alimento. “Saber cuidar se constitui na aprendizagem fundamental dentro dos desafios de sobrevivência da espécie, porque o cuidado não é uma opção: os seres humanos aprendemos a cuidar ou perecemos”.

Cuidar das pessoas não significa, portanto, assistencialismo, como muitos dirigentes políticos verbalizam e praticam em nosso meio social, numa estratégia de alienação do eleitor, que acaba acreditando que a sua vida depende desses podres poderes e voluntariamente se tornando um servo da gleba.

Assim pensando, imagino que a ideia-chave poderia ser algo como a HUMANIZAÇÃO DA CIDADE, com propostas que envolvessem o combate ao cotidiano da violência, o tormento das vias de transporte, a falta de calçadas para os pedestres, de ciclovias, além do acesso aos serviços públicos por toda a população. Uma cidade humanizada precisa de lazer e convivência. Uma cidade solidária em que as pessoas ganham os espaços públicos, as ruas, praças, parques para se encontrarem sem pressa e sem preconceitos de qualquer natureza; uma cidade tranquila, arborizada com espécies nativas, paisagismo, todos esses ambientes disseminados pelos bairros e tudo isso sob a proteção de um sistema de segurança eficaz e confiável.

Aqui está a cura da insegurança e da violência; conhecer o vizinho, criar redes, misturar-se com os diferentes, saudá-los, e voltar a sorrir no espaço público. A rua é uma autêntica e complexa instituição social, onde desde crianças aprendemos a socializar e construir comunidades. Se a rua acaba por privilegiar o automóvel por sobre o pedestre, ela morre e inicia-se o fim da cidade. A população precisa ter, de fato, direito à cidade.

Sãos os “olhos da rua”, (Jane Jacobs), que sugerem que a presença das pessoas nos espaços públicos instaura uma certa segurança natural sobre esses mesmo locais, diminuindo com isso a violência.

Enfim, precisamos de uma grande ideia que mobilize a sociedade, que pode ser a da HUMANIZAÇÃO DA CIDADE ou outra melhor. No plano eleitoral, imagino ser essa também a forma de escapar da polarização que se avizinha, sustentada, de ambos os lados, por duas poderosas máquinas eleitorais.

Penso que o nosso pré-candidato a prefeito, Fábio Câmara, com a entrega simbólica da ROSA do PDT a mulheres e homens possa estar caminhando nessa direção. Obviamente, necessita de assessoria e marketing político competente para examinar a ideia acima, fazer pesquisa qualitativa para sentir o pulso da população sobre essa ou outra ideia, compreender que o PDT tem história e é maior que ele, além de ouvir os líderes partidários que conhecem a forma própria de fazer campanha bem sucedidas. Oxalá!

*Economista, ex-secretário de Planejamento do Maranhão



Fonte: Opinião

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