POR ABDELAZIZ SANTOS
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, recentemente publicada, mostra que o Maranhão é o único estado do país com renda média inferior a R$ 1.000. Diz mais, o Maranhão continua sendo a unidade da federação com a pior renda média per capita do país e que o valor é 47% menor do que o rendimento médio nacional.
Esses dados não podem ser atribuídos apenas ao governo atual, a ele também, é claro, mas guarda uma série histórica de desmandos, de falta de planejamento, de descortino dos caminhos que o Maranhão precisa trilhar para mudar tal estado de coisas.
Por estas bandas, continuamos a apostar nos grandes projetos “salvadores da pátria”, glorificados pelas cabeças pensantes dos governos, projetos que um dia deverão ser implantados e que, a partir deles, a pobreza suma como num passe de mágica.
A ingenuidade dos gestores governamentais quer nos fazer crer que o Maranhão está a um passo do seu merecido cenário de riquezas e desenvolvimento. Quisera poder acreditar que tudo acontecerá como pensam, mas a experiência de décadas de grandes projetos por estas plagas não só não nos fizeram mais ricos, pelo contrário, nos tornaram mais pobres.
Como isto pôde acontecer? Simples: projetos intensivos de capital não geram grande número de empregos para consolidarmos um mercado de consumidores a impulsionar a economia. Na verdade, não se constituíram para isso, mas para ganhos de escala remuneratória do capital investido.
Por que, fico me perguntando, os técnicos do governo não veem isso? O que falta a eles compreender que é a partir do desenvolvimento de nossas potencialidades regionais – que são muitas, diga-se de passagem – que poderemos sair dessa cilada? Qual o trunfo que têm nas mangas de suas camisas que os fazem exibir seus argumentos soberbos, enquanto repisam na mesmice apontando para resultados diferentes?
Devo deixar claro que não sou contrário a projetos audaciosos ou inovadores, prospectar o há de novo e melhor no mundo, olhar para bem longe, sermos visionários, sonhar com coisas grandes, cujo custo é igual a sonhar com coisas pequenas. São bem vindos o Porto de Alcântara, a Estrada de Ferro Açailândia/Alcântara, a ZPE, a Energia de Hidrogênio Verde. A questão é que temos de pisar firmes na realidade, enquanto se trabalha pela implementação deste ou daquele projeto, de futuro, se é que ele interessa mesmo ao desenvolvimento do Maranhão.
O que significa, na prática, um planejamento feito pelo nosso governo para o horizonte de 2050, trinta anos pela frente? Nem a URSS, quando existiu, ou a China ousaram planejamento tão longo, mesmo com economias razoavelmente planificadas. Para onde caminhamos? Que futuro nos espera?
A população observa, nada diz, não sabe como pensam os governantes, eles mesmos também não, o tempo passa inexoravelmente, nada de novo acontece, que esperança nos resta?
*Economista, ex-secretário de Planejamento do Maranhão
Fonte: Opinião
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