POR ABDELAZIZ SANTOS
Estamos vivendo a expectativa de uma legislação complementar a dar curso à “REFORMA TRIBUTÁRIA” aprovada pelo Congresso Nacional, conjunto de leis que dá margem à guerra entre os grandes, como agora mesmo está se vendo entre os grupos econômicos que produzem cerveja e cachaça. O povo mesmo sempre fica por fora do processo, já que não tem lideranças capazes e livres para irem ao Congresso lutar por suas pautas.
Os sindicatos de trabalhadores que, em princípio, teriam essa missão foram destituídas de tais prerrogativas pela manipulação dos que detêm o Poder Político, já que se arvoraram de representarem as próprias organizações sindicais. Este é o nosso Brasil.
Há algum tempo, a jornalista do El País, Eliana Brum, disse em um dos seus artigos que o nosso País ousou dar um lugar nobre aos pobres sem fazer mudanças estruturais que afetasse os privilégios dos ricos, no início deste século. Diz mais a jornalista “que o peso subjetivo da ideia de uma conciliação de que seria possível reduzir a pobreza sem a perda de privilégios, vendida de forma sedutora como uma possibilidade em exercício, não pode ser subestimado e que isso teria transformado o Brasil num País espasmódico”.
Não há fórmula mágica. A questão mais profunda do Brasil permanece a mesma: para haver uma conciliação de fato, é necessário que uma parte da população perca privilégios. E isso, para as elites e parte da classe média, era - e ainda é - inaceitável. Resultado disso é o que vemos hoje: não conseguimos criar o novo, atolado num velho passado que não soubemos ou não tivemos coragem de ultrapassar. Difícil se torna construir um projeto responsável de país sem entender onde ele falhou.
O mais triste disso tudo é que, de 2013 para cá, nenhum movimento de massas eclodiu em rebeldia contra os privilégios dos ricos, principalmente dos poucos banqueiros rentistas que comem o dinheiro dos impostos pagos pela população e, assim, lhes subtraem recursos para as políticas fundamentais de segurança, educação e saúde. Da tecnologia nem falar, pois o Brasil anda tão distante do tema que se esforça no agronegócio para gerar superávit que lhe dê margem de importação de tecnologias até para assuntos estratégicos da nação. Continuamos exportando matéria prima para os países de alta tecnologia processá-las e nos venderem de volta a preços exorbitantes.
Até mesmo o movimento de 2013 foi interpretado como manobra da direita para defenestrar as conquistas realizadas pelos governos ditos de esquerda. Aqui se distorce tudo. Somos campeões em “fake news”, ao ponto de não se saber quem é mais competente nas notícias falsas e na omissão das verdadeiras: se direita ou esquerda. Nisso se igualam.
E a nossa intelectualidade de esquerda? Sumiu, acovardou-se? Parece engalfinhada numa visão unilateral dos fenômenos políticos, sem coragem de avançar em suas teses para além do cotidiano disperso do pantanal arenoso da politicagem de nome e cor conhecidos.
Quanta saudade do tempo em que a esquerda cuidava de temas como desarmamento, soberania dos povos, superação da pobreza dos países do terceiro mundo afundados nas dívidas aviltantes financiadas e controladas pelos países do centro capitalista, seus opressores.
Lembro-me de ter dito a um certo tempo que não apenas caminhamos para a cegueira coletiva sobre a qual Saramago nos chama a atenção no Ensaio sobre a Cegueira. Estamos todos loucos, e internados num grande manicômio abandonado e vivendo como bichos tal como nos fala o grande escritor português, em que o instinto se sobrepõe à razão e à dignidade humanas.
Não perco, contudo, a esperança. O Brasil é bem maior do que pensam os que hoje duelam por nacos de poder, sem projeto de nação, e à revelia do sentimento de unidade nacional hoje amortecido, mas que precisa florescer.
*Economista, ex-secretário de Planejamento do Maranhão
Fonte: Opinião
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