Ricardo Marques

O avanço mundial da direita

Por: Opinião | Publicado: 04/11/2024 08:15 - 0 comentário


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POR ABDELAZIZ SANTOS

Penso que uma das causas que pode explicar a perda do apoio popular por parte da esquerda internacional, ao lado de tantas outras, é a desconfiança da população com as atrocidades perpetradas por alguns governos a ela ligados que matam ou mandam matar seres humanos, além da violação permanente dos direitos humanos nesses países, sob a proteção do mutismo da intelectualidade de esquerda.

Tais fatos deveriam ser criticados duramente por parte de todos, principalmente pela esquerda que lidera historicamente a luta pelos direitos humanos no plano internacional. O seu silêncio, inclusive aqui no Brasil, ante tais violações deve espantar a população mundial, que se recolhe e vota contra suas bandeiras pelo descrédito em que se colocaram. Uma esquerda assim sumida está em uma crise muito maior do que se supõe.

A condenação que o Brasil deveria fazer a esses países de centro ou da periferia que produzem atrocidades contra os direitos humanos e as liberdades fundamentais da pessoa teria de ser tão peremptória como a que fez o Presidente Lula contra Israel na guerra conta o Hamas, ainda que a diplomacia internacional seja mais cuidadosa com as palavras, coisa distante da capacidade do nosso primeiro governante.

A esquerda mundial precisa recompor-se numa unidade agregadora como outrora tínhamos na Internacional Socialista, agora, claro, em moldes próprios às atuais circunstâncias históricas. Parece que é pequeno o avanço da Internacional Progressista, fundada em 2020, com a missão de unir, organizar e mobilizar as forças progressistas de todo o mundo, que hoje reúne mais de 100 organizações que representam milhões de pessoas de todos os continentes. O fato de ter sido criada também por personalidades americanas talvez afaste importantes forças da esquerda europeia que vive em desconforto permanente com a subserviência do continente aos EUA e que arrasta a Europa a uma guerra estúpida e imperialista com a Rússia, na Ucrânia.

Quem sabe poder-se-ia constituir uma alternativa em que o diálogo entre a diversidade das correntes possa encontrar o rumo perdido no século passado, e infelizmente ainda não reencontrado. Tal fato, a perda do rumo, pôs por terra as grandes bandeiras da esquerda internacional (o desarmamento, a soberania dos povos, a superação da pobreza dos países do terceiro mundo) que caminha há décadas carente de conteúdos ressignificados para as lutas sociais da contemporaneidade.

Resultou, então, que o farol das esquerdas foi ficando sem luz e brilho e preenchido pela mais profunda escuridão, responsável pelos mal feitos, pela chacina de adversários e pela estupidez de alguns dos seus governos. A verdade é que as organizações de centro-esquerda e de esquerda não estão sendo capazes de produzir ideias novas que nos tirem do atoleiro e nos torne capazes de enfrentar a direita e ultradireita em crescimento.

A dificuldade para tal empreitada no cenário mundial é não poder contar, a priori, com a liderança de partidos de países fortes, socialistas ou comunistas, porque, em geral, na maioria deles, as pessoas e organizações sofrem violações em seus direitos e liberdades.

Os partidos socialistas europeus que lideraram a Primeira, a Segunda, a Terceira, a Quarta e até mesmo a Quinta Internacional Socialista, ou comunista neste caso, teriam hoje força suficiente para levar a bom termo tal empreitada? As rusgas entre o partido comunista da ex-URSS (Trotsky no comando) e os partidos socialistas da Alemanha foram realmente superadas após o debacle do fascismo naquele país? O pobre discurso da esquerda na França e na Alemanha atuais dirigido à classe trabalhadora e distante da classe média amedrontada pelas fakes news da direita e ultradireita credencia os partidos desses países à liderança de outrora?

Quais partidos à esquerda – e de quais países – poderiam assumir a responsabilidade pela grandeza de uma empreitada dessas? Partidos do México, Chile e outros países latino-americanos com governos à esquerda ou centro-esquerda poderiam sustentar tal empreitada?

E o Brasil, agora rendido ao rentismo do modelo neoliberal e acomodado a propostas reformistas sem ressonância com a realidade da população, fragilizando a esquerda e deixando o governo Lula em confusão total, o que dele se pode esperar a título de contribuição para esse mister, principalmente com o descrédito provocado pela dubiedade de atitudes com ditaduras como a da Venezuela e Nicarágua, por exemplo? O resultado do 1º turno das eleições não seria um reflexo desses descaminhos?

Horizontes sombrios que nos traz à lembrança Fernando Pessoa: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Como sairemos desse imbróglio?

*Ex-secretário de Planejamento do Maranhão



Fonte: Opinião

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