POR RICARDO MARQUES
Agora querem chamar as facções criminosas de “terroristas”. Bonito, né? Parece até que, trocando o nome, o problema muda de natureza — como se a bala ficasse mais leve porque agora tem pedigree ideológico.
É claro que o terror existe: nas vielas, nas prisões, no medo mudo das comunidades dominadas. Mas o terror ali tem CNPJ do crime, não bandeira política. É negócio, não revolução. E tratar bandido empresário como jihadista é confundir lucro com ideologia — e lei com vingança.
Mesmo assim, o Congresso discute um projeto que quer fazer exatamente isso: classificar facções e milícias como terrorismo. O governo diz que não cabe — que o terrorismo, por lei, exige motivação política ou religiosa, e que o que a gente tem aqui é máfia, não revolução.
Mas a tentação é grande: com a etiqueta de “terrorismo”, o Estado ganha superpoderes. Pode prender mais, errar mais, e tudo em nome da segurança.
E é aí que mora o perigo: toda vez que o Estado se arma demais, a democracia desarma um pouco.
Sim, o crime precisa ser combatido com firmeza. Mas cuidado: quando o remédio é autoritário, a doença muda de endereço — e passa a morar dentro do próprio governo.
No fim, o verdadeiro terror talvez seja esse: a facilidade com que a gente topa abrir mão da liberdade — só pra dormir com a ilusão de estar seguro.
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Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques
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