Ricardo Marques

POR RICARDO MARQUES 

Em São Luís, ontem, não foi apenas uma paralisação. Foi quase um terremoto silencioso: uma única empresa parou — apenas uma! — e 15 bairros tombaram de joelhos, sem ônibus, sem rota, sem saída. A cidade, essa velha guerreira cansada, viu seus habitantes marchando a pé como exércitos improvisados, tentando vencer distâncias que o poder público já havia prometido encurtar.

Os rodoviários, esses soldados anônimos, denunciam que não recebem desde 20 de outubro. Os demitidos esperam por rescisões que nunca vieram, como mensageiros aguardando cartas que se perderam no tempo. Do outro lado do campo, o SET — o sindicato das empresas — ergue sua bandeira e acusa: faltam R$ 7 milhões da prefeitura — o subsídio que Braide deveria ter entregue no início do mês. Sem ele, dizem, a frota é um gigante de barro que desmorona ao primeiro trovão.

E, apesar disso, a ironia épica se impõe: já foram despejados mais de R$ 140 milhões no sistema. Uma fortuna digna de reinos antigos — e mesmo assim os ônibus parecem carruagens quebradas, amarradas por cordas, empurradas à força por uma cidade exausta.

A nova licitação, prometida em campanha, tornou-se lenda — como aquelas histórias que os velhos contam, mas ninguém viu acontecer. Está guardada em algum cofre empoeirado, um pergaminho esquecido, enquanto o prefeito percorre outros mapas… mapas que apontam não para terminais de ônibus, mas para o Palácio dos Leões.

Sim, Eduardo Braide, reeleito sob a promessa de ficar até o último dia, agora se move como herói de outra narrativa, mirando a coroa de governador. O problema é que, enquanto ele sonha com batalhas maiores, a cidade trava batalhas reais — e perde!

E assim seguimos: São Luís, ilha de encantos e desencantos, lutando por um transporte digno. Uma capital que todos os dias ergue sua espada contra o caos… enquanto o seu líder afia a própria ambição, preparando-se para abandonar o campo antes do último ato.

No fim, a epopeia se resume a isso: um povo que não desiste, e um poder que insiste em faltar.

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