Ricardo Marques

O mistério da federalização

Por: O comentário do dia de Ricardo Marques | Publicado: 19/11/2025 07:58 - 0 comentário


Compartilhe:


POR RICARDO MARQUES 

A decisão do STJ de federalizar parte das investigações sobre os crimes ocorridos em Pedrinhas entre 2013 e 2014 reacende uma velha ferida do Maranhão — e levanta novas perguntas. O tribunal reconhece que, à época, houve grave violação de direitos humanos e completa incapacidade do Estado para investigar mortes e desaparecimentos. Isso é fato. Mas por que essa decisão só veio agora, tantos anos depois, justamente quando o sistema prisional maranhense vive outra realidade, com indicadores melhores e reconhecimento nacional?

É inevitável especular. A federalização pode ser, sim, apenas o cumprimento tardio de uma demanda internacional. Pode ser um ajuste de contas com um passado brutal que marcou o país. Mas também pode refletir algo menos visível: o peso do Judiciário atuando na política maranhense. Quando um ministro do STJ ressalta avanços, mas ainda assim retira das mãos do Estado a condução do caso, fica a sensação de que há desconfiança — não apenas estrutural, mas talvez institucional. Talvez até política.

Nos últimos anos, o Judiciário ganhou protagonismo incomum. Alguns enxergam excesso de influência; outros, necessidade de equilíbrio num ambiente de fortes disputas. A federalização pode ser lida como um gesto técnico — ou como um recado. Um aviso de que, apesar dos avanços, há limites para a autonomia local quando o passado mal resolvido insiste em cobrar a conta.

No fim, a decisão reacende o debate sobre responsabilidade, transparência e confiança. E coloca o Maranhão novamente sob os olhos do país — desta vez não pelo caos de antes, mas pela necessidade de explicar por que, mesmo com melhorias, certos fantasmas ainda precisam ser julgados longe de casa.

Veja o comentário em vídeo (aqui)



Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques

Deixe seu comentário aqui

Verificação de segurança

Comentários


Nenhum comentário foi encontrado, seja o primeiro a comentar!