POR RICARDO MARQUES
Há um teatro de sombras no orçamento público: cortinas que se abrem só para quem tem chave. Emendas parlamentares — prometidas como pequenos remendos para o Brasil real — viraram cortinas opacas por onde escorre o dinheiro sem rosto. O que era pró-forma passou a ser sistema.
Hoje a Polícia Federal revisa emendas atribuídas a dezenas de parlamentares — um pente-fino que nasceu de uma ordem do Supremo e de alertas do TCU — porque inúmeros repasses não têm plano de trabalho, nem rastreabilidade. Isso não é falha técnica: é convite ao crime.
Quando o Estado não exige contas claras, aparece o mercado paralelo da emenda: empresas de fachada, "contas de passagem”, e até suspeitas de ligação com organizações criminosas. Não são raras coincidências — são padrões. A Controladoria e os auditores já apontaram fragilidades graves na transparência e na execução dessas verbas.
A narrativa oficial fala em “destinação local”, em “ajuda aos municípios”. A prática, porém, reproduz o velho ciclo: verba camuflada, prestação de contas ausente, benefícios concentrados e, no fim, indícios de desvios que alimentam campanhas e facções. Jornalismo e órgãos de fiscalização mostram inquéritos que não podem mais ser varridos para debaixo do tapete.
Há solução? Sim: transparência plena — contas específicas por emenda, rastreabilidade em tempo real, punição exemplar. Ou continuamos aplaudindo o espetáculo da opacidade enquanto a democracia perde o seu ingresso: o dinheiro público. E isso, meus amigos e amigas, não é drama — é urgência.
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Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques
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