Ricardo Marques

POR RICARDO MARQUES 

A terça-feira amanhece com aquele cheiro conhecido de desistência travestida de prudência. Parece que o presidente da Câmara, Paulo Victor, resolveu simplesmente não levar adiante o pedido de impeachment do prefeito Eduardo Braide. Sim: depois de todo o suspense, toda a coreografia, toda a pose de que “agora vai”… parece que não vai. A fumaça subiu, mas era só vapor.

A guinada aconteceu depois de reuniões no fim de semana — reuniões feitas logo após o Executivo, vejam só, descobrir a urgência súbita de pagar emendas que estavam mais atrasadas que obra pública em ano eleitoral. Emendas guardadas desde setembro, mas que, misteriosamente, viraram prioridade absoluta quando o clima azedou. É o famoso milagre da meia-noite: Braide piscou, a Fazenda abriu, e até servidor de plantão apareceu para carimbar o milagre.

O pedido de impeachment — lembrando, apresentado por dois auditores aposentados que levaram um corte de mais de 30% no salário — acusava Braide de crime de responsabilidade por ignorar a Lei 7.729, aquela que atualiza o teto remuneratório dos servidores municipais e amplia o salário do próprio prefeito. A matéria estava prontinha para entrar na pauta hoje. Estava. Porque, de repente, Paulo Victor parece ter descoberto que comprar uma briga direta com Braide poderia desgastar sua… digamos… “pureza política”.

E assim, no empurra-empurra dos bastidores, deve vir o arquivamento. Uma ducha fria na bancada que queria ver o circo pegar fogo — bancada que agora precisa se contentar com o extintor de Braide e o balde d’água de Paulo Victor.

Enquanto isso, o gesto do prefeito na sexta-feira — liberar uma emenda de 300 mil para o presidente da Câmara quase à meia-noite — como revelou ‘O Informante ‘ — continua brilhando como neon em botequim barato. Chamam de gesto administrativo. Eu chamo de buquê de flores entregue antes da audiência de divórcio.

Resultado: ninguém sustenta a pose. Uns recuam, outros desistem, todos fingem maturidade institucional. E a cidade? Bom…, a cidade continua como figurante dessa ópera pastelão.

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