No palco da 80ª Assembleia Geral da ONU, Lula tentou afirmar ao mundo uma narrativa forte: o Brasil, segundo ele, é um exemplo de democracia que resistiu a ataques — inclusive “sanções arbitrárias e unilaterais” — e que continuará soberano e independente.
O discurso teve acertos claros: ao conectar pobreza, desigualdade e fragilidade democrática, Lula mostrou que seu olhar vai além da diplomacia tradicional — ele buscou legitimar no plano moral a intervenção brasileira nos grandes temas globais — fome, meio ambiente, crise climática, regulação digital. E ao abordar Gaza com firmeza, condenando o que chamou de “genocídio”, o presidente reforçou um perfil de liderança ativa nos debates internacionais mais carregados.
No entanto, não se trata apenas de tom e conteúdo — é também estratégia. Ao discursar sem citar nomes, mas com recados claros aos Estados Unidos, Lula jogou em terreno diplomático arriscado. Em cenários de tensão prévia entre Brasil e Washington, levantar bandeiras duras pode mobilizar apoio interno e reforçar protagonismo, mas também provocar retaliações ou ampliar atritos.
Quanto ao desempenho retórico, sua fala foi segura. Mas a retórica aguerrida exige equilíbrio: exageros ou frases muito simbólicas podem soar como bravatas em audiência internacional diversa.
Em síntese: Lula fez um discurso corajoso, estratégico, que joga com símbolos e não apenas interesses — insistiu em afirmar a independência do Brasil, no multilateralismo e na justiça social. Mas o sucesso dependerá de sua capacidade de transformar esse gesto em política concreta — doméstica e externa — sem se reduzir ao palco retórico.
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Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques
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