POR AZIZ SANTOS
Era o que nos faltava: considerar o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre o que convencionou-se chamar de golpe como O JULGAMENTO DO SÉCULO. Não sei bem de onde partiu essa genial maluquice, qual a origem dela, mas o MEIO (plataforma de mídia independente), que leio todos os dias, com conotação de esquerda, fala disso dia após dia.
Pois bem: o século mal começou (25 anos) e ainda faltam 75 anos para terminar, e já se apressam para dar títulos honoríficos a esse julgamento. Em 2023, o STF julgou a ação sobre o MARCO TEMPORAL, e ninguém teve a ideia de nomear tal julgamento com um título à altura da questão, não obstante a importância que tinha e que resultou numa grande vitória para os povos indígenas, já que o Supremo entendeu que o direito originário dos povos sobre suas terras é anterior à criação do Estado brasileiro e não deve ser limitado por uma data específica.
Ora: o que poderia ter sido mais relevante para o Brasil do que essa questão, justamente por se tratar das NAÇÕES INDÍGENAS, nossos primeiros habitantes, nossa ancestralidade maior, povos que com a sabedoria ancestral que detêm ainda hoje são os verdadeiros guardiões de nossas florestas, com especial menção à Floresta Amazônica, mantendo-a de pé, não obstante a barbaridade dos seus predadores (fazendeiros, grileiros, siderúrgicas que se beneficiam diretamente da retirada da madeira para o uso do carvão, garimpeiros e outros) que teimam em derrubá-la e estão conseguindo ao longo dos anos.
Esse julgamento sim, a ele poderíamos titular como o JULGAMENTO DO SÉCULO, ou do MILÊNIO, mesmo porque se o Brasil foi “descoberto” pelos portugueses em 1500 (o que não passa de etnocentrismo europeu) os nossos ancestrais indígenas já habitavam as terras do Brasil muito antes, estima-se que em torno de 50 milhões deles.
Essa inversão de valores é contínua no ambiente político brasileiro. Acusávamos, com razão, que tal costume corria por conta da direita a querer assegurar privilégios indevidos e inconstitucionais sobre a grande maioria da população. Agora, não. A esquerda, ou o que se entende dela, essa que está aí dando as ordens resolveu copiar o que condenava, e faz isto muito mal, mexendo em coisas que deveriam ser sagradas para nós.
Não falo nem escrevo o nome do condenado-mor no dia 11 de setembro em curso para não elevar seu nome às massas. Todos sabemos que ele ainda detém um vigoroso e perigoso número de adeptos, milhões, quase a metade de nossa população. Não me dou ao trabalho de nominá-lo porque entendo que se trata de um erro absurdo fazê-lo, senão para içá-lo ainda mais perante os seus admiradores, como faz essa esquerda moralmente corrompida por seus sucessivos governos e que era vista por Golbery como controlável e alinhável, daí que tudo fez para reduzir a expressão de Brizola e Prestes do cenário político, pois estes eram vistos como representantes de mudanças radicais.
Fiz e continuo fazendo parte de outra esquerda, aquela que não produzia acordos impróprios com a extrema direita e com o Centrão, sob o argumento perverso de que o Brasil só pode ser governado por tais acordos, feitos à revelia da população, sempre chamada a participar das eleições, mas que é propositadamente afastada das decisões que a ela mais interessam. Esquerda da qual não se tinha notícias de corrupção por onde governava e que lutava por teses sagradas e consagradas pela Internacional Socialista, quando esta ainda tinha peso político no mundo, e que aqui no Brasil era liderada por Jango, Brizola, Darcy Riberio, Francisco Julião, Arraes, Prestes, Pasqualini, Teotônio dos Santos e, mais perto de nós, Neiva Moreira, William Moreira Lima, Maria Aragão e Jackson Lago.
Precisamos urgentemente escapulir dessa arapuca dicotômica em que os brasileiros fomos colocados.
*Economista, ex-secretário de Planejamento do Maranhão
Fonte: Opinião
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