POR RICARDO MARQUES
O Brasil voltou a olhar para o céu a partir do Maranhão — e, mais uma vez, o céu respondeu com ironia. Depois de quatro adiamentos, ontem à noite o primeiro lançamento comercial de foguete realizado a partir do Brasil, no Centro de Lançamento de Alcântara, resolveu cumprir apenas metade do roteiro: subiu… e explodiu. Um voo curto, barulhento e simbólico, como certas promessas tropicais que decolam cheias de PowerPoint e pousam em silêncio constrangido.
O problema é que o Maranhão, convenhamos, não tem histórico de sorte com foguetes. Em 22 de agosto de 2003, o país assistiu à maior tragédia do programa espacial tupiniquim: uma explosão ainda na plataforma de lançamento, tirando a vida de 21 técnicos civis. Ali, o sonho virou luto — e o céu ficou pesado demais para aplausos.
Anos depois, em 2022, tivemos outro lançamento memorável: o foguete eleitoral de “Meu Preto”, então candidato ao governo do Estado. Não deu ré, é verdade, mas explodiu no ar antes de chegar ao destino. Política também tem dessas coisas: combustível demais, cálculo de menos.
Nada disso invalida o sonho espacial brasileiro. Mas talvez recomende menos fogos e mais engenharia — técnica, humana e institucional. Porque foguete não vive de discurso. Vive de precisão.
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Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques
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