POR RICARDO MARQUES
Desde ontem o Brasil está com aquela sensação estranha de déjà-vu institucional. Segundo reportagens amplamente divulgadas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, teria batido à porta do Banco Central não para falar de jurisprudência, mas de banco — banco com B maiúsculo, cifras bilionárias e um empresário algemado há pouco tempo. Tudo, claro, segundo relatos, segundo fontes, segundo a imprensa. Mas, convenhamos, no Brasil o “segundo” costuma ser sempre o primeiro sinal de alerta.
Dizem que houve telefonemas, encontros, afagos verbais, uma tentativa de salvar o paciente financeiro na UTI. O problema é que, quando a toga conversa demais com o cofre, a República começa a tossir. Não é ilegal perguntar, mas é indecoroso insistir. E não é crime ter amigos; crime é confundir amizade com função.
No meio disso tudo, surgem contratos milionários, tornozeleiras eletrônicas, operações com nomes de filme ruim e um silêncio institucional ensurdecedor. O Supremo, que deveria ser o último degrau da confiança pública, acaba escorregando na própria sombra.
Talvez nada reste provado. Talvez tudo se explique. Mas a dúvida — ah, essa já foi contratada sem licitação.
Veja o comentário em vídeo (aqui)
Moraes nega ter tratado do Banco Master em reuniões com presidente do BC
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, em nota divulgada nesta terça-feira (23), que as reuniões mantidas com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, trataram exclusivamente das implicações da aplicação da Lei Magnitsky, adotada pelos Estados Unidos, e não do caso envolvendo o Banco Master.
A manifestação foi divulgada após reportagem da colunista Malu Gaspar, em O GLOBO, apontar que Moraes teria procurado Galípolo diversas vezes para discutir a venda do Banco Master ao Banco de Brasília (BRB), operação que acabou rejeitada pelo Banco Central por falta de viabilidade econômico-financeira.
A coluna de Malu Gaspar aponta que os contatos entre o ministro Alexandre de Moraes e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, teriam ocorrido no contexto de um contrato firmado entre o Banco Master e o escritório de advocacia da esposa do magistrado, Viviane Barci de Moraes, avaliado em cerca de R$ 130 milhões até 2027.
Segundo a reportagem, o escritório atuaria na representação do banco e de seu controlador, Daniel Vorcaro, junto a órgãos como Banco Central, Receita Federal, Cade e Congresso. A coluna afirma ainda que Moraes teria defendido decisões favoráveis ao Banco Master, condicionando a aprovação da operação ao não reconhecimento de fraudes.
A nota do ministro:
“O ministro Alexandre de Moraes esclarece que, em virtude da aplicação da Lei Magnitsky, recebeu para reuniões o presidente do Banco Central, a presidente do Banco do Brasil, o presidente e o vice-presidente jurídico do Banco Itaú.
Além disso, participou de reunião conjunta com os presidentes da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, da Febraban, do BTG e os vice-presidentes do Bradesco e Itaú.
Em todas as reuniões, foram tratados exclusivamente assuntos específicos sobre as graves consequências da aplicação da referida lei, em especial a possibilidade de manutenção de movimentação bancária, contas correntes, cartões de crédito e débito”.
Banco Central confirma reuniões
Após a divulgação do posicionamento do ministro, o Banco Central também se manifestou, confirmando os encontros, mas sem mencionar o Banco Master.
“O BC confirma que manteve reuniões com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky”, informou a instituição.
Fonte: O comentário do dia de Ricardo Marques
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